UM POUCO DE AMOR
Saudade, torrente de paixão; minha inimiga beijou-me a boca e os louros da vitória pertencem ao mal de amar errado. Tenho as mãos amarradas, as pernas cansadas e uma preguiça de quem não tem onde cair morto. Subi as ladeiras da insônia e mandei te buscar; nem que seja tua imagem, representada num sorriso debochado, tão livre de qualquer coisa que lembre a min. Resultado raso, não era o esperado. Cambaleei indefeso na ingenuidade de que me ampararias; caí embriagado, despencando dos cachos de teus cabelos, nesse dia de sol tímido, que se recolhe quando o olham, atrás das nuvens de sua insegurança. Mas meu olhar esquivo também é sem vergonha. Pretendo ser a base, se é o que queres; mas eu venho do topo, é lá que eu vivo, venha comigo. É uma árvore da qual conheci primeiro as folhas, depois o caule, o fruto e só por fim as raízes; não segui cronologia, segui meu instinto insano, inóspito e circunspecto, para te revelar o meu segredo. E para incendiar-te de dentro pra fora; não sentiste, não notaste, mas já estavas consumida, ardida e perdida em meio desses galhos concupiscentes. Mas, o que sobe desce; ascensão, apogeu e queda; o mundo não são só lírios, as urtigas florescem e a gente esqueceu de podá-las. Mas o mutante imutável permanece colossal; estátua de sal. Foste Deus e ao mesmo tempo Ló. Só que teu pão mofou; mas o trigo será sempre trigo. Nada se perde, nada se cria; humanitas queria comer. O mutante imutável ainda não mudou. Saudade, torrente de paixão. Fede como leite de rosas. Linak roubou o césio da França. A Inês é morta. Teu retrato, às vezes é sisudo; às vezes debochado, como eu queria; às vezes compenetrado; ar intelectual; terno; louco; bisonho; homicida; melódico; mágico; um pouco de tudo, de tudo um pouco, como todo retrato. Assim, vários em um, um em vários; como todo retrato de saudades de amor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário